Já sei, estamos todos fartos da crise e de se falar em
crise. Até parece que quanto mais tocamos no termo, mais se agrava a dita cuja.
Dizem-nos que há que ter paciência, que devemos aguardar mais uns tempos,
porque isto passa. É como a constipação, vai tomando uns chazinhos e umas
ponchas, que a coisa vai lá. Assim mesmo, nem é preciso tomar medidas;
mandem-se às malvas as linhas de crédito, não é necessário colocar a banca na
ordem, quais incentivos fiscais qual carapuça, nada de incentivar o bom investimento
público, a iniciativa privada, a recuperação e revitalização empresarial, e
quem quiser trabalhar deverá ser severamente punido. Aliás, essa preocupação,
quase enfadonha, com o emprego e o número de desempregados não interessa coisa
nenhuma, porque até há o subsídio de desemprego que corrige todas as
assimetrias e ainda poupa uns tostões aos malandros dos empresários. Deixem-se
de tretas porque não podemos perder tempo com assuntos menores e que não
interessam a ninguém. Há para aí uma teoria que defende que o que interessa é
fazer investimento público, mesmo que inventado (e não necessitado ou
pertinente, como estabelece a Contabilidade Pública), se forem públicos tanto
melhor, não sendo relevante se têm ou não retorno, (o tal R.O.I., mas nada tem
a ver com ratos, muito menos de cinco unhas).Imaginem que até se dizem
Keynesianos! (ai se Keynes sabe disto). O que interessa é fazer obra, se
possível que custe uns milhões e o problema, de certeza absoluta, que se vai
resolvendo, porque vão “injectando dinheiro” na economia. Seja aeroporto ou
tgv, estrada, marina, centro cívico ou ponte, o que importa é anunciar a
desejada e ansiada obra. Depois de estar pronta, então fazem-se os estudos,
para averiguar da sua viabilidade e, claro está, avaliar o impacte ambiental.
Mas só no fim, não vá o diabo tecê-las e aparecerem resultados surpreendentes,
que não agradem aos seus mentores.
Como diria Albert Einstein, “em momentos de crise só a imaginação é mais
importante do que o conhecimento”.
Cá na nossa terra, parece-me que já existe imaginação
a mais e competência a menos. Será que é a síndrome do Einstein?
O
Prof. Augusto Mateus, numa conferência recente, referiu que “um investimento é sempre uma despesa mas uma
despesa nem sempre é um investimento”, acrescentando que “o investimento público é muitas vezes
realizado à revelia da evolução da procura”.
Referiu, também, que o investimento público e
o investimento privado têm lógicas diferentes. No investimento privado, o
investidor preocupa-se sempre com a rentabilidade do mesmo; no investimento
público nem sempre é assim porque o investidor usa o dinheiro dos
contribuintes. Ou seja, o risco de um mau investimento é maior no lado público.
Deu como exemplo as “auto-estradas
construídas para ganhar eleições”.
Aqui
na nossa terra temos vários exemplos destes, sobretudo nos últimos anos, os
quais têm sido amplamente debatidos nos últimos dias, fruto do posicionamento
de algumas candidaturas à liderança do PPD/PSD.
Ora
aqui está um bom tema para reflexão, esperando que os nossos Governantes (os
actuais e os futuros) possam tirar as devidas ilações, para que, pelo menos, o
pobre do cidadão que está farto de pagar impostos não seja mais sacrificado com
a irresponsabilidade que por aí grassa.